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Por que criança aprende línguas mais rápido?

Existe uma crença popular de que crianças aprendem idiomas com mais facilidade e velocidade do que adultos. Mas quando olhamos para os dados, esse mito não se sustenta. A seguir, vamos entender por que essa ideia se espalhou, o que a ciência diz sobre o tema e quais fatores realmente influenciam o aprendizado de línguas em crianças e adultos.


O mito da "criança que aprende mais rápido"

A principal razão para o mito é a percepção superficial do processo. Vemos crianças bilíngues brincando ou falando com fluência, mas esquecemos o mais importante: esse processo leva anos e acontece em um ambiente totalmente imersivo, muitas vezes com suporte familiar, escolar e social.


Segundo Singleton e Ryan (2004), adultos podem apresentar um ritmo inicial de aprendizado mais acelerado justamente porque têm referências estruturais da língua materna, maior capacidade de análise gramatical e memória consciente.


Já as crianças têm outras vantagens, mas essas vantagens se manifestam no longo prazo, principalmente em aspectos como pronúncia e naturalidade.


O que a ciência mostra sobre o aprendizado de línguas

O aprendizado de uma nova língua depende de diversos fatores, que variam conforme a faixa etária. Vamos listar os principais argumentos que ajudam a entender por que adultos, em várias situações, aprendem mais rápido que crianças:

  1. Capacidade cognitiva e metalinguística

    Adultos têm maior capacidade de compreender regras gramaticais, identificar padrões e aplicar estratégias de aprendizado. De acordo com Krashen (1982), o adulto possui um "monitor" cognitivo mais desenvolvido, que permite analisar e corrigir a própria fala.

  2. Motivação e foco

    Crianças pequenas têm baixa capacidade de foco e motivação consciente. Elas aprendem no dia a dia, de forma natural, mas sem meta ou estrutura definida. O adulto, por outro lado, consegue estabelecer objetivos, escolher métodos e dedicar tempo ao aprendizado de forma consistente.

  3. Acesso a recursos estruturados

    O adulto pode acessar livros, cursos, apps e professores que organizam o conhecimento de forma clara. Crianças aprendem por exposição e tentativa e erro, o que exige muito mais tempo.

  4. Plasticidade neural versus especialização neural

    De fato, o cérebro infantil tem alta plasticidade neural, o que facilita a aquisição de sons e entonações. Mas é importante entender que plasticidade não significa velocidade. Estudos como Johnson e Newport (1989) apontam que adultos aprendem estrutura e vocabulário mais rapidamente, mas têm limitações para atingir pronúncia nativa.

  5. Tempo de exposição e ambiente

    O principal fator que acelera o aprendizado de crianças é a exposição constante. Elas passam horas por dia ouvindo e interagindo. Quando adultos são colocados em ambiente imersivo semelhante, como morar em outro país, também alcançam resultados rápidos.


Crianças x Adultos: quem aprende de verdade?

Se falarmos de curto prazo, adultos aprendem mais rápido. Conseguem construir frases simples, entender instruções e se comunicar em situações específicas em poucas semanas ou meses. Crianças levam anos para dominar o básico.


Por outro lado, o cérebro da criança, ao longo do tempo, internaliza a língua com menos esforço consciente, alcançando naturalidade e pronúncia quase nativas, principalmente quando exposta antes da puberdade.


Mas isso não significa que adultos não podem atingir alto nível. Segundo DeKeyser (2000), adultos que seguem métodos adequados, com exposição consistente e prática real, podem atingir fluência avançada e excelente comunicação.


Conclusão: você não está "velho demais" para aprender

O mito de que só criança aprende rápido é uma desculpa que paralisa muitos adultos. A ciência é clara: adultos têm vantagens em foco, memória consciente, estratégia e organização do aprendizado. O que falta, muitas vezes, é constância, exposição e um bom método.


Portanto, não caia na armadilha do mito. Comece, use os recursos certos e descubra que é possível aprender inglês ou qualquer outro idioma em menos tempo do que você imagina.


Referências

DeKeyser, R. M. (2000). The robustness of critical period effects in second language acquisition. Studies in Second Language Acquisition, 22(4), 499–533.

Johnson, J. S., & Newport, E. L. (1989). Critical period effects in second language learning: The influence of maturational state on the acquisition of English as a second language. Cognitive Psychology, 21(1), 60–99.

Krashen, S. D. (1982). Principles and practice in second language acquisition. Pergamon.

Singleton, D., & Ryan, L. (2004). Language acquisition: The age factor (2nd ed.). Multilingual Matters.

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