Por Que Brasileiros Soam “Cantando” Quando Falam Inglês — e Como Corrigir Isso com Ciência
- Micael Daher Jardim
- 15 de mai.
- 2 min de leitura
Se você já ouviu que “brasileiro fala inglês cantando”, calma — isso tem base científica e solução prática.
O português brasileiro é uma língua silábica, ou seja, cada sílaba tem uma duração mais ou menos igual. Já o inglês é acentual, ou stress-timed, o que significa que as sílabas tônicas aparecem em intervalos regulares, enquanto as outras são comprimidas ou reduzidas (Celce-Murcia, Brinton e Goodwin, 2010). Isso cria um ritmo muito diferente — mais seco, mais direto — que pode soar “sem emoção” para o brasileiro, mas soa natural para o nativo.

Além disso, brasileiros tendem a usar melodia ascendente até em frases afirmativas, o que em inglês é típico de perguntas ou incerteza. Cruttenden (1997) mostra que o inglês usa muito mais entonação descendente em afirmações e comandos. Quando um brasileiro sobe a entonação em toda frase, transmite dúvida ou falta de confiança sem querer.
O problema vem do que Flege (1995) chama de transferência fonológica: levamos para o inglês os padrões rítmicos e entonacionais do português, o que atrapalha a comunicação. Segundo Derwing e Munro (2005), o ritmo e a entonação errada têm mais impacto na percepção do sotaque do que os sons individuais, como o “th” ou o “r”.
Ou seja, se você quiser soar mais fluente, precisa treinar prosódia — ritmo, entonação e redução.
Como melhorar?
Treine a entonação descendente. Diga: “I live in Lisbon.” com queda no final. Não deixe a frase “subir”.
Reduza palavras fracas como to, for, and, usando o som /ə/ (schwa). Ex: “going to” → gonna.
Faça shadowing: ouça um nativo e imite exatamente o ritmo, pausas e entonação. Grave e compare.
Evite dar peso igual para todas as sílabas, como no português. Em inglês, só as sílabas tônicas devem ser fortes.
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Aprender vocabulário e gramática é essencial, mas soar natural depende da prosódia. E isso, felizmente, dá pra treinar — com método, paciência e ciência.

Referências
Celce-Murcia, M., Brinton, D. M., & Goodwin, J. M. (2010). Teaching pronunciation: A course book and reference guide (2nd ed.). Cambridge University Press.
Cruttenden, A. (1997). Intonation (2nd ed.). Cambridge University Press.
Derwing, T. M., & Munro, M. J. (2005). Second language accent and pronunciation teaching: A research-based approach. TESOL Quarterly, 39(3), 379–397. https://doi.org/10.2307/3588486
Flege, J. E. (1995). Second language speech learning: Theory, findings, and problems. In W. Strange (Ed.), Speech perception and linguistic experience: Issues in cross-language research (pp. 233–277). York Press.